Mesmo com a taxa Selic fixada em 15% ao ano, o crédito imobiliário para pessoa física mostra resiliência e segue em expansão no Brasil. Nos primeiros três meses de 2025, o setor registrou alta de 20% no volume de financiamentos, enquanto no acumulado até maio o avanço foi de 11%, sinalizando leve desaceleração, mas ainda com patamares robustos. A previsão é de que o total concedido ultrapasse R$120 bilhões ao longo do ano, segundo dados de entidades do setor.
Especialistas apontam que, apesar da alta da taxa básica, o mercado ainda opera com financiamentos a juros mais baixos do que a Selic, o que sustenta o apetite por imóveis. Financiamentos habitacionais são encontrados com taxas em torno de 12% ao ano, configurando um cenário que alguns definem como “juros reais negativos”, quando comparados ao custo do dinheiro no país. Além disso, o baixo estoque de imóveis novos, equivalente a apenas oito meses de lançamentos, mantém a demanda aquecida.
Para Daniel Claudino, especialista em mercado imobiliário e escritor, o cenário vai além do impacto direto dos juros. “A taxa de juros pesa, mas não decide sozinha. O que vemos é um conjunto de fatores, como renda disponível, dinâmica demográfica e oferta de crédito, que ainda mantém o desejo de compra aquecido. A baixa oferta de imóveis novos e o protagonismo de jovens e famílias da classe média mostram que o sonho da casa própria continua falando mais alto do que o custo imediato do financiamento”, afirma.
Já Heitor Kuser, especialista em mercado imobiliário e CEO do CIMI360, destaca que os juros altos acabam estimulando o crescimento dos fundos em detrimento do investimento direto na construção ou compra de imóveis. Ele explica que: “É natural, quando aumentam os juros, que o capital migre da produção, ou seja, do investimento direto em imóveis, para fundos de investimento que garantem uma rentabilidade nesse caso alta, em detrimento de baixo risco. Se tivéssemos uma Selic a 2%, o dinheiro migraria para construir imóveis ou investir diretamente em incorporadoras. Esse fluxo é sempre proporcional à taxa de juros”.
Com a chegada do segundo semestre, o mercado imobiliário permanece otimista. O envelhecimento populacional, o adiamento dos casamentos e o aumento da poupança por parte das famílias são vistos como vetores adicionais de sustentação para o setor. Ainda assim, alguns especialistas alertam para a necessidade de acompanhar a evolução da capacidade de pagamento do comprador, sobretudo caso as taxas continuem pressionadas ou os imóveis sigam subindo acima da inflação.
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