No Brasil, um dos setores que mais sofrem com a falta da mão de obra especializada é a indústria. Faltam técnicos de nível médio e profissionais de nível superior para ocupar as vagas. O País, que fala em neoindustrilização como um dos pilares da política econômica, enfrenta o desafio de capacitar estes profissionais. Por isso, O DIA conversou com os mais diversos agentes deste setor para entender o cenário atual.
Em nota, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) informou que vê o cenário de mão de obra como um dos principais desafios atuais da indústria. Segundo o órgão, há uma percepção crescente por parte das empresas sobre a dificuldade em contratar trabalhadores qualificados, situação que piorou desde a pandemia e ainda não retornou ao patamar anterior.
A escassez é global, mas no Brasil 80% das empresas relatam dificuldade em preencher vagas, colocando o País na 11ª posição no ranking global de escassez de talentos, como mostra a pesquisa Global Talent Shortage, do ManpowerGroup. Além disso, de acordo com o IBGE, o número de pessoas disponíveis para o trabalho formal ainda é baixo (62,4%).
De acordo com o Mapa do Trabalho Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o País precisará qualificar cerca de 14 milhões de profissionais até 2027, sendo 2,2 milhões de novos e 11,8 milhões que já estão no mercado.
Diante disso, o Senai informou atuar de forma estratégica junto a setores com maior urgência — como Construção Civil, Tecnologia da Informação e Comunicação, Alimentos e Bebidas e Energia — para desenvolver programas de formação rápida e efetiva, como o Plano Nacional de Qualificação para a Construção Civil, que promove formação de profissionais no próprio canteiro de obras.
Outra iniciativa é a oferta de cursos gratuitos para jovens e trabalhadores de baixa renda, tem como objetivo ampliar o acesso à educação profissional de qualidade, promovendo a inclusão produtiva e contribuindo para o enfrentamento da escassez de mão de obra qualificada na indústria.
Para o órgão, há lacunas estruturais que podem ser interpretadas como reflexo de políticas públicas insuficientes ou mal direcionadas.
Ações do governo
O DIA entrou em contato com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) para entender mais sobre o que pode ser feito para melhorar a questão. A pasta confirmou que a política de neoindustrialização, dando centralidade a questões como sustentabilidade, transformação digital e geração de empregos de maior qualificação e renda.
A pasta também disse que O Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), coordenado pelo MDIC, criou um Grupo de Trabalho para debater ações voltadas à formação, qualificação e fixação de pessoal de nível superior para o desenvolvimento tecnológico para atuação na indústria.
As principais iniciativas nessa área, segundo o MDIC, estão sendo desenvolvidas pelos ministérios do Trabalho e Emprego (MTE), da Educação (MEC) e da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Procurado, o MEC informou que tem trabalhado com diversas ações visando ao aumento de matrículas de educação profissional e tecnológica (EPT) e a consequente formação de jovens e adultos para o mundo do trabalho.
Dentre as principais iniciativas, destaca-se a o investimento de R$3,9 bilhões, por meio do Novo PAC, para consolidação das unidades existentes da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e para implantação de 102 novos campi de institutos federais pelo Brasil, que vai gerar mais de 140 mil vagas, majoritariamente de cursos técnicos integrados ao ensino médio.
Com recursos do Programa de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, o Pronatec, o MEC também tem desenvolvido iniciativas em parceria com as redes de ensino e instituições ofertantes de EPT:
– Investimento de R$ 70 milhões para estados ofertarem 60 mil vagas na Escola de Tempo Integral na modalidade educação profissional;
– Programa Mulheres Mil: 109 mil vagas de qualificação profissional em mais de 527 municípios em um investimento de R$ 187 milhões;
– Cursos na área de energia renovável: 17 mil vagas (R$ 21 milhões de investimento);
– Cursos de Bioeconomia na Amazônia Legal: 12 mil vagas (R$ 12 milhões investidos);
– Capacita em Rede: 19 mil vagas (R$5 milhões);
Os ministérios do Trabalho e Emprego (MTE) e da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) também foram procurados, mas não responderam aos questionamentos.
Situação no Rio de Janeiro
Em entrevista a O DIA, Luiz Césio Caetano, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), detalhou como a situação dos trabalhadores de indústrias fluminenses.
“Em 2024, o estado do Rio de Janeiro encerrou o ano com 169 mil profissionais empregados com carteira assinada em ocupações técnicas da indústria”, disse Caetano.
As áreas com maior concentração de trabalhadores foram Controle e Planejamento da Produção (27,2 mil empregados), Eletroeletrônica (26,3 mil), Metalmecânica (22,6 mil), Tecnologia da Informação (16,6 mil) e Logística (16,5 mil).
“Nessas ocupações, o salário médio de admissão foi de R$ 3.302 em 2024 — 46% acima da média de entrada no mercado formal fluminense (R$ 2.286). Entre as áreas ocupacionais, os maiores salários médios de admissão em 2024 foram registrados em Mineração (R$ 6.103), Material de Transporte (R$ 4.882), Automação (R$ 4.241), Controle e Planejamento da Produção (R$ 3.990) e Metalmecânica (R$ 3.788)”, destaca.
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