Quem caminha pelos Jardins, entre a Rua da Consolação e a Alameda Franca, já se deparou com dois novos edifícios que se destacam na paisagem pelas linhas retas, pelo concreto moldado tal como uma escultura e por um minimalismo que remete às cidades escandinavas, como Oslo e Estocolmo — e não é por acaso.
Os projetos foram assinados pelo escritório Spol Architects, que tem como sócios dois noruegueses, Adam Kurdahl e Jens Noach, e a brasileira Raissa Bahia. Assim como esse, diversos escritórios multinacionais têm participado cada vez mais do mercado imobiliário paulistano, criando um legado que vai muito além do design criativo.
“Os empreendimentos Solo e Nord, da Nortis Incorporadora, são exemplos perfeitos da combinação do melhor da arquitetura do Brasil e da Escandinávia”, afirma Kurdahl.
Segundo ele, desde a experiência modernista de Oscar Niemeyer, Paulo Mendes da Rocha e Lina Bo Bardi, o país tem os engenheiros mais capacitados para trabalhar o concreto. “O design escandinavo contribuiu com sua visão sobre minimalismo e o que é essencial para as pessoas viverem”, acrescenta.
A Spol Architects tem 55 profissionais entre o Brasil e a Noruega, e a interação dos times acontece por meio de reuniões online. “Nessas ocasiões, eles apresentam projetos, trocam informações e discutem conceitualmente o melhor a fazer não apenas no layout e nas plantas, mas na relação dos prédios com o entorno”, afirma Raissa.
No Campo Belo, o escritório desenvolve o projeto Viva!, um complexo multiúso para a Jacarandá Capital. Entre as torres corporativa, residencial e de hotelaria há fruições e praças no térreo que criam caminhos por onde as pessoas poderão atravessar o terreno de 45 mil metros quadrados.
Para Kurdhal, esse é um dos legados da relação multicultural. “Temos que ter cuidado para desenhar espaços que dialoguem com a cidade, e essa é uma preocupação. Essas áreas são tão importantes quanto o interior dos edifícios”, diz.
O impacto na vizinhança e a influência positiva para o mercado imobiliário da cidade são pontos levantados por Lara Kaiser, líder em Healthcare Design da Perkins&Will, em São Paulo. Com sede em Atlanta, nos Estados Unidos, o escritório tem cerca de 2,7 mil arquitetos espalhados pelo mundo, todos aptos a fazer projetos no Brasil. “Dependendo da demanda, buscamos especialistas em outros países para contribuir com ideias e soluções. As várias formas de pensar tornam os projetos mais criativos”, afirma.
Como exemplo, ela cita o novo complexo do Sabará Hospital Infantil, em construção no bairro de Pinheiros, na Zona Oeste da capital, em parceria com a SDI Desenvolvimento Imobiliário. Para desenhar o exterior do empreendimento — que terá 180 leitos, 12 salas cirúrgicas e um residencial com 105 apartamentos —, foi escalado o arquiteto cubano Manuel Cadrecha, designer principal da Perkins&Will global, baseado em Atlanta.
“Como ele é um especialista em arquitetura voltada à saúde e tem sólida experiência internacional, pode contribuir muito para a plasticidade e a funcionalidade do projeto. O design da proposta dele remete ao abraço e ao aconchego, perfeito para receber as crianças e seus familiares”, destaca.
Lara Kaiser acredita que o complexo deverá elevar o nível da arquitetura desenvolvida na região, deixando um legado para a cidade. “O empreendimento vai se tornar uma referência e influenciar positivamente projetos futuros no bairro”, aposta.
Sofisticação
Subir a régua de sofisticação dos ambientes foi uma das premissas da LW Design para assumir o projeto Etmo Jardins, da incorporadora Plaenge. O escritório sediado em Dubai tem filiais na Dinamarca, em Hong Kong e em São Paulo, onde é comandado pela diretora de Design Global, Cristina Wakamatsu.
Para desenvolver o conceito dos interiores do condomínio localizado nos Jardins, a LW buscou inspiração no luxo dos empreendimentos feitos por eles nos Emirados Árabes Unidos. “Buscamos referências nos resorts de Dubai para desenhar o spa do prédio, por exemplo. Até os corredores, que serão acarpetados, foram inspirados em hotéis cinco estrelas de lá”, explica Cristina.
As fachadas diferentes também foram influenciadas por essa multiculturalidade. “O lado voltado para a Avenida Rebouças ficou mais dinâmico, como vemos nos arranha-céus de Dubai. Já a face voltada para a Rua Melo Alves tem um estilo mais elegante e europeu”, descreve.
A cultura europeia também está presente no trabalho do escritório franco-brasileiro Triptyque Architecture. Mas, na visão do sócio-fundador Guillaume Sibaud, a influência vai além das formas. “Uma das contribuições desse diálogo é o uso de materiais e técnicas construtivas mais sustentáveis, que já são obrigatórias em muitos países europeus, em projetos do Brasil”, afirma.
Sibaud explica que a adoção de itens de baixo carbono na construção, como a madeira engenheirada, é uma exigência na França. “Nosso escritório tem a sorte de poder testar essas soluções com antecedência aqui. São demandas que só chegarão ao Brasil no futuro”, afirma.
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