O mercado imobiliário brasileiro tem se mostrado resiliente e dinâmico,
mesmo diante de desafios econômicos e mudanças nas políticas de crédito.
O primeiro semestre de 2024 foi marcado por uma retomada dos lançamentos
imobiliários, impulsionada por um ambiente de taxas de juros mais
estáveis e uma demanda crescente por imóveis, especialmente nas grandes
cidades. Com essa movimentação, surgem perspectivas positivas para o
segundo semestre, que promete ser um período de consolidação e
crescimento, mas também de desafios que exigem estratégia e adaptação
por parte dos players do mercado.
Nos primeiros seis meses de 2024, o mercado viu um aumento significativo
no número de lançamentos, particularmente nos segmentos de médio e alto
padrão. Dados da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias
(Abrainc) indicam que houve um crescimento de 12% nos lançamentos em
comparação ao mesmo período do ano anterior. Esse aumento é resultado de
uma combinação de fatores, incluindo uma maior confiança do consumidor,
a recuperação gradual da economia e políticas de incentivo ao setor,
como a redução de impostos e a flexibilização no financiamento de
imóveis.
Os lançamentos desempenham um papel crucial na dinâmica do mercado, pois
não apenas aumentam a oferta de imóveis, mas também movimentam toda a
cadeia produtiva, desde a construção até o financiamento. Com o
incremento de novos projetos, há uma geração expressiva de empregos
diretos e indiretos, além de impulsionar setores correlatos, como o de
materiais de construção e serviços de arquitetura e design. Isso cria um
efeito positivo na economia como um todo, contribuindo para o PIB e para
a estabilidade econômica do país.
Para o segundo semestre de 2024, as perspectivas são de continuidade
desse movimento de alta nos lançamentos, com uma expectativa de
crescimento de até 15% em relação ao primeiro semestre. As grandes
incorporadoras já sinalizaram que irão manter um ritmo acelerado de
lançamentos, com foco em empreendimentos que atendam a demanda por
residências com maior infraestrutura de lazer e serviços, refletindo uma
mudança nas preferências dos consumidores pós-pandemia.
Espera-se também que a demanda continue aquecida, especialmente nos
segmentos que contemplam financiamento acessível e condições de
pagamento facilitadas. A Caixa Econômica Federal e outros grandes bancos
têm lançado linhas de crédito com condições atraentes, o que deve
contribuir para manter o setor aquecido. No entanto, a sustentabilidade
desse crescimento depende de fatores externos, como o controle da
inflação e a estabilidade política, que impactam diretamente a confiança
dos investidores e consumidores.
Outra tendência para o segundo semestre é o avanço dos lançamentos de
imóveis sustentáveis, uma resposta à crescente demanda por soluções que
considerem o impacto ambiental. Incorporadoras estão investindo em
certificações verdes e em tecnologias que reduzam o consumo de energia e
água nos empreendimentos, alinhando-se às expectativas de um consumidor
cada vez mais consciente e exigente.
Apesar do cenário positivo, o mercado imobiliário brasileiro ainda
enfrenta desafios importantes. A principal preocupação está relacionada
ao custo elevado dos materiais de construção, que impacta diretamente o
preço final dos imóveis. A inflação nos insumos da construção civil,
embora tenha mostrado sinais de desaceleração, ainda representa um fator
de pressão para o setor, exigindo estratégias de gestão de custos mais
eficientes por parte das construtoras.
Outro desafio é a adequação dos lançamentos às reais necessidades do
mercado. Embora a demanda esteja aquecida, é essencial que os
empreendimentos sejam planejados com uma visão estratégica, considerando
fatores como localização, perfil do consumidor e tendências de
habitação. Lançar imóveis que não se alinhem com as expectativas e
possibilidades financeiras dos compradores pode resultar em estoques
elevados e em dificuldades de comercialização.
Por fim, é crucial acompanhar de perto o cenário macroeconômico,
especialmente em um ano eleitoral, onde incertezas políticas podem
influenciar o comportamento do mercado. A expectativa é que o governo
mantenha um foco em políticas de estímulo ao setor, mas é essencial que
as incorporadoras e investidores mantenham uma postura cautelosa e
estejam preparados para ajustes rápidos em suas estratégias, caso o
cenário se altere.
O mercado imobiliário brasileiro entra no segundo semestre de 2024 com
otimismo, impulsionado por um aumento significativo nos lançamentos e
por uma demanda crescente. As perspectivas são de continuidade desse
movimento positivo, com oportunidades especialmente nos segmentos de
médio e alto padrão, e em empreendimentos que ofereçam diferenciais
sustentáveis e de qualidade de vida.
No entanto, é fundamental que as empresas do setor estejam atentas aos
desafios que se apresentam, como o controle dos custos de construção e a
necessidade de uma oferta que realmente atenda às expectativas do
mercado. Com uma estratégia bem definida e uma leitura atenta do cenário
econômico, o mercado imobiliário brasileiro tem tudo para consolidar seu
crescimento e contribuir de forma expressiva para a recuperação
econômica do país.
*Marie Brandão é fundadora e CEO da Stratégie Inteligência e Gestão
Imobiliária
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