O aposentado Oswaldo Santana, de 66 anos, morou quase a vida inteira num apartamento em um prédio de quatro andares e sem escadas, no bairro do Cabula, em Salvador. Em abril, depois de muita insistência das duas filhas e de dores constantes na lombar e nos joelhos, ele resolveu trocar o local por uma unidade num edifício com elevador na região da Vila Laura. “Além de não ter que subir e descer degraus, aqui os apartamentos têm mais espaço para circular entre os cômodos, me sinto mais seguro”, conta ele, que até passou a socializar e passear mais graças à facilidade do elevador no condomínio.
A partir de 2031, a população brasileira será formada, majoritariamente, por pessoas de mais de 60 anos, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). De meados do século passado até hoje, a expectativa de vida no país aumentou mais de 31 anos. Por conta disso, diversos setores da economia, inclusive o imobiliário, têm se adaptado para atender as demandas de clientes como Oswaldo, em uma sociedade cada vez mais idosa.
Em Salvador, o Residencial Botticelli, na Pituba, lançado no início dos anos 2000, ainda é o principal exemplo de empreendimento adaptado ao chamado senior living. Com oito andares, sendo o último uma cobertura compartilhada, o edifício possui sala de atendimento médico, sala de fisioterapia, piscina com barras de apoio para hidromassagem e hidroginástica, sala de jogos, pisos antiderrapantes em todos os ambientes, além de funcionalidades nas áreas internas dos apartamentos. As tomadas e interruptores foram instaladas em altura média e perto de móveis estratégicos, como as camas, para evitar esforço dos moradores, e os banheiros são equipados com barras de ferro.
“O público sênior não é necessariamente mais exigente. Acho até que eles são mais simples. São dispostos a investir em sofisticação, desde que ela faça sentido em seu dia a dia, em seu conforto e bem-estar”, avalia o engenheiro e incorporador Cleber Marques. No entanto, a maioria dos empreendimentos voltados a esse público no Brasil é de alto padrão.
Em outros estados
Em Curitiba, por exemplo, a construtora Laguna lançou, em 2020, o condomínio BIOOS, com uma torre residencial e uma torre de cuidados de saúde, numa região privilegiada na cidade. “Oferecemos um complexo com ambientes para conviver, descansar e trabalhar. Acessibilidade e senso de comunidade são prioridades para clientes na terceira idade, por isso, segurança e autonomia são importantes”, comenta Gabriel Raad, diretor da construtora.
Já em São Paulo, um dos empreendimentos nesse nicho é o Matture Home Life, da Matushita Engenharia, em parceria com a PlazzaCorp, que tem como mote o “envelhecer saudável”, com unidades adaptáveis às necessidades dos moradores à medida em que ficam mais velhos. “A ideia é propiciar um lugar no qual planejar e vivenciar a terceira idade da melhor forma, podendo adicionar serviços suplementares específicos para facilitar as condições de moradia e manter a qualidade de vida”, explica Charles Vasserman, gestor do projeto.
Além dos residenciais adaptados, outra tendência nesse mercado é o cohousing: um conjunto de casas no mesmo entorno, com áreas comuns que aproximam os moradores, cujo objetivo é estabelecer os vínculos afetivos entre pessoas e incentivar a troca de experiências.
Consolidado na Europa e nos Estados Unidos, o modelo começa a entrar no radar do mercado imobiliário no Brasil. Em 2014, o governo da Paraíba inaugurou a Cidade Madura, em João Pessoa, o primeiro condomínio do país voltado exclusivamente para idosos. Com 54 metros quadrados, as casas são totalmente adaptadas às necessidades das pessoas da terceira idade e seguem normas de acessibilidade, inclusive, para os que utilizam cadeira de rodas. A área externa conta com uma praça, pista de caminhada, academia ao ar livre e campo de futebol. O residencial possui ainda uma unidade de saúde, centro de convivência, horta e redários.
De acordo com a arquiteta Patrícia Almeida, plantas compactas e funcionais são as melhores para que os idosos possam realizar suas atividades diárias de forma independente e com segurança. “Os ambientes integrados são uma ótima escolha, pois não há a necessidade de atravessar vários cômodos para ir de um lugar ao outro, o que reduz o risco de acidentes domésticos, como quedas”. Rampas de acesso, portas mais largas e corredores espaçosos também facilitam a locomoção, segundo ela.
Para a prevenção de acidentes, a arquiteta recomenda manter os ambientes livres de obstáculos como móveis em excesso ou mal posicionados e fios ou tapetes soltos, que possam representar um perigo de queda. “Se for possível, é interessante apostar em camas e cadeiras com altura adequada para facilitar o sentar e levantar”, acrescenta Almeida, que também orienta a utilização de revestimentos de piso antiderrapantes em áreas molhadas, como banheiros e cozinhas, e o uso de pisos vinílicos e laminados nas salas e quartos, para evitar escorregões. “As barras de apoio são excelentes opções em áreas como banheiro e corredores, assim como ao lado de escadas”, ressalta.
A arquiteta destaca que a tecnologia é uma importante aliada nos empreendimentos imobiliários pensados para as pessoas mais velhas .Para garantir assistência imediata em caso de queda, acidente ou emergência médica, por exemplo, é possível instalar alarmes de emergência pessoais ou sistemas de resposta rápida no apartamento. Além disso, assistentes virtuais podem ajudar os moradores a controlar dispositivos domésticos inteligentes como termostatos, iluminação e eletrodomésticos, apenas com comandos de voz simples. “Sensores de movimento também são uma opção útil e podem ser instalados em áreas críticas, como banheiros, corredores e escadas. Uma câmera de segurança simples pode desempenhar o mesmo papel, garantindo o monitoramento contínuo dos ambientes”, diz ela. Tudo para um envelhecer com qualidade, segurança e autonomia.
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