Após um longo período de estagnação, a taxa de juros Selic está prestes a iniciar um ciclo de cortes, trazendo alívio para a economia, que sofreu com a alta dos juros nos últimos anos. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, responsável por definir a taxa Selic, enfrenta um desafio importante nessa tomada de decisão: equilibrar as necessidades do país e as pressões políticas. Isso deve durar até 2024, enquanto o Presidente do Banco Central fica no cargo.
A decisão de cortar os juros, mesmo que de forma parcimoniosa, é um passo significativo em direção à retomada do crescimento econômico. A expectativa é que o Copom anuncie uma redução de 0,25 ou 0,5 ponto percentual na taxa Selic, saindo dos atuais 13,75% para 13,5% ou 13,25%, respectivamente. Essa medida, segundo especialistas e instituições financeiras, é um consenso, mas podemos ter surpresas.
O Banco Central tem desempenhado um papel fundamental nesse processo, buscando manter a inflação sob controle e criar um ambiente mais favorável para investimentos e crescimento econômico. A apreciação cambial e a melhora do rating do Brasil pela Fitch são sinais positivos que mostram que o país está no caminho certo para recuperar sua credibilidade junto aos investidores.
Entretanto, é importante destacar que o Banco Central também enfrenta desafios, principalmente relacionados ao comportamento do Governo Federal em relação às finanças públicas. O atual cenário de expansão da política fiscal tem preocupado os especialistas, pois o aumento das despesas públicas pode limitar o espaço para novos cortes nos juros. Embora a inflação esteja cedendo, o crescimento das despesas de consumo do governo e o compromisso com elevação do salário mínimo e reajustes salariais para os servidores têm impactado negativamente as contas públicas. A inflação, um dos principais indicadores econômicos que afetam diretamente a vida dos brasileiros, está intimamente ligada ao comportamento dos gastos públicos, e o governo tem contribuído significativamente para sua elevação ao adotar uma postura gastadora e pouco disciplinada.
O Governo Federal precisa compreender que a redução dos juros é um processo complexo e que requer um trabalho conjunto entre os órgãos responsáveis pela política monetária e a política fiscal. O novo arcabouço fiscal, que permite o crescimento das despesas em um cenário de inflação controlada, é um avanço importante, mas é necessário um compromisso firme com a responsabilidade fiscal para garantir que essa medida seja eficaz.
Além disso, o controle nos preços é outra frente que merece atenção. O recente exemplo do petróleo do tipo Brent, com alta mesmo diante da queda do dólar, ilustra como a dinâmica dos preços pode afetar a economia. Embora possa aparentar ser uma medida populista, essa abordagem não é sustentável a longo prazo e pode gerar distorções no mercado, causando impactos negativos em diversos setores da economia. O governo parece estar a repetir estratégias equivocadas do passado, como controle excessivo e intervencionismo, que podem gerar desequilíbrios e pressões inflacionárias.
A política expansionista adotada pelo governo tem como consequência um maior endividamento público, o que também contribui para pressionar a inflação. O aumento da dívida pública torna o país mais vulnerável a choques externos e dificulta a retomada do crescimento sustentável.
O Banco Central tem feito sua parte ao buscar a estabilidade da economia e a retomada do crescimento, mas é essencial que o governo também contribua nesse esforço. Medidas como a reforma tributária, que podem simplificar o sistema e atrair investimentos, devem ser priorizadas. Além disso, é fundamental que as políticas fiscais sejam conduzidas de forma responsável, evitando impactos negativos na dinâmica da dívida pública e criando um ambiente favorável para a queda sustentável dos juros.
A perspectiva de cortes na taxa de juros Selic é uma notícia positiva para a economia brasileira, mas é necessário que o Governo Federal atue em consonância com o Banco Central, buscando o equilíbrio entre o estímulo ao crescimento e a responsabilidade fiscal. Somente dessa forma será possível criar um ambiente favorável para investimentos, controlar a inflação e pavimentar o caminho para um futuro econômico mais promissor.
Murillo Torelli
Professor de Contabilidade Financeira e Tributária no Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).
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